Este livro reúne quatro ensaios sobre a ideia de “essência” em arquitetura, tema que Juhani Pallasmaa vem desenvolvendo ao longo de sua extensa carreira como arquiteto e fi lósofo. Os textos cobrem a última década da obra teórica do crítico fi nlandês: desde o primeiro ensaio aqui apresentado, “Espaço, lugar, memória e imaginação” (2007), ao último, “A arquitetura como experiência” (2017). Eles têm uma abordagem bio-histórica e existencial quanto à arte da arquitetura.
Trata-se de uma superação da visão puramente ocular que Pallasmaa sintetiza com as seguintes palavras: “Penso que as experiências tocantes da arquitetura surgem de memórias e signifi cados bioculturais secretos e pré-conscientes, em vez de uma estética puramente visual. Essas características poderiam ser chamadas de ‘essências arquitetônicas’”.
Sumário
Prefácio
Espaço, lugar, memória e imaginação
Matéria, tatilidade e tempo
Aprender e desaprender
A arquitetura como experiência
Fonte dos textos
Prefácio
Juhani Pallasmaa
Ao longo de quase meio século lecionando arquitetura, já proferi inúmeras palestras ao redor do mundo, cada uma delas com cerca de uma hora de duração. De dez a doze páginas de texto escrito também se tornaram o comprimento médio de meus ensaios, mesmo quando não foram escritos para palestras. Com esse número de páginas, conseguimos desenvolver um tema com argumentos suficientes e incluir desvios inesperados na linha de raciocínio principal a fim de fazer o texto ser lido como uma exploração ainda inacabada, em vez de se tornar um sermão. Como quase sempre ilustro meus colóquios com inúmeras imagens emparelhadas, que constituem sua própria narrativa dialética, minhas palestras têm, na verdade, inicialmente se constituído em duas narrativas estabelecidas com um contraponto deliberado – um verbal, o outro, visual.
Mais da metade de minhas palestras ou ensaios são respostas a tópicos que me foram solicitados junto com o pedido; o restante dos tópicos surgiu de meus interesses pessoais relacionados àqueles temas. Vistos em retrospectiva, os quase quatrocentos ensaios que já publiquei podem sugerir um projeto de pesquisa préconcebido, em virtude de uma direção ou progressão aparente, mas devo dizer – com toda a sinceridade – que o acaso e a sorte das felizes descobertas têm desempenhado um papel mais significativo do que qualquer plano geral ou direção escolhida conscientemente. Depois que comecei minha expedição verbal e filosófica no fenômeno da arquitetura e de suas essências, eu simplesmente continuei minha jornada, fiz os desvios e percorri os caminhos laterais sugeridos por aquilo que vivenciei, vi, ouvi ou li. Muitas vezes sou apresentado como um teórico, algo que sempre me deixa desconfortável. Não estou tentando construir uma teoria da arquitetura. Eu apenas sigo minha jornada através da ampla paisagem da arquitetura como uma experiência histórica, cultural, estética, sensorial e existencial e somente relato minhas percepções, observações e intuições.
Quando, em 1974, voltei da África ao meu país, após passar dois anos lecionando arquitetura em Adis Abeba, Etiópia, comecei a escrever sobre temas antropológicos, o condicionamento cultural da visão e o papel da inconsciência nas artes e no pensamento criativo. Após esses assuntos, passei para a hegemonia da visão na cultura ocidental, nossos sensos negligenciados e a significância da corporificação e da experiência existencial. Só depois me dei conta das obsessões modernas com a forma pura, a percepção focada e a racionalidade e passei a me interessar pela percepção periférica, a realidade do tempo na arquitetura, os benefícios da imprecisão e incerteza no pensamento criativo e atmosferas, “quase coisas” e os processos de transformação, em vez das formas fechadas. Acredito que, sem qualquer intenção deliberada, venho trabalhando rumo ao um entendimento bio-histórico e existencial da arte da arquitetura.
Penso que as experiências tocantes da arquitetura surgem de memórias e significados bioculturais secretos e préconscientes, bem como de encontros existenciais e ressonâncias, em vez de uma estética puramente visual. Essas características poderiam ser chamadas de “essências arquitetônicas”.
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