Os trabalhos de bordado do passado são uma fonte extraordinária para recuperarmos pontos de bordado tradicionais. Marie Suarez, professora belga de bordado, sabe bem disso e está realizando um valioso trabalho de arqueologia para resgatar os pontos básicos que eram usados para iniciar as meninas na costura. Você conhecerá por meio deste caderno os pontos clássicos usados nesses míticos mostruários!
· 69 pontos de bordado: 22 pontos vazados e 47 pontos tradicionais explicados com ilustrações passo a passo. Os pontos ajour e os pontos básicos que toda principiante deve conhecer.
· 9 projetos extraídos de mostruários ou “rolos” de trabalhos em que são expostas a variedade de composições, de técnicas aprendidas (incluindo o bordado de letras) ou de combinação de cores. O patrimônio histórico do artesanato a seu alcance!
· Técnicas e preparativos: noções básicas para preparar o tecido, usar o bastidor ou aplicar o método tradicional de transferência.
A terceira parte da enciclopédia do bordado da professora mais conhecida em todo o mundo!
Sumário
Introdução
Os pontos vazados
1. Ajour simples
2. Ajour simples – variante com ponto cruz
3. Ajour simples de duplos grupos de fios (ou ajour duplo amarrado)
4. Ajour simples de triplos grupos de fios
5. Ajour em serpentina (ou ajour em ziguezague)
6. Dupla borda de ajour
7. Dupla borda de ajour em serpentina
8. Ajour com grupos de fios amarrados em serpentina
9. Ajour duplo (ou ajour escada)
10. Ajour duplo – variante com ponto cruz
11. Ajour duplo (ou ajour escada) de duplos grupos de fios
12. Ajour duplo (ou ajour escada) de triplos grupos de fios
13. Ajour entrelaçado
14. Ajour entrelaçado – variante
15. Ajour entrelaçado duplo
16. Ajour amarrado
17. Ajour amarrado – variante (ou ajour expresso)
18. Ajour amarrado de triplos grupos de fios
19. Ajour com ponto corrente semifechado
20. Ajour com ponto corrente semifechado alinhavado
21. Ajour com ponto malha
22. Roseta com teia de aranha
Os pontos tradicionais
1. Estrela de ponto cruz alongado
2. Ponto estrela
3. Ponto simples vazado
4. Ponto de Bargello ou ponto húngaro ou ponto florentino ou ponto chama
5. Ponto telhado
6. Ponto ladrilho/tijolo
7. Preenchimento com ponto ladrilho/tijolo
8. Ponto russo em escada
9. Ponto russo sobre ponto simples
10. Ponto cruz alongado
11. Ponto cruz alongado alternado
12. Ponto cruz chinês
13. Treliça em ponto cruz
14. Ponto cruz alternado
15. Ponto cruz estendido
16. Ponto cruz de São Jorge ou ponto cruz reto
17. Preenchimento com ponto cruz de São Jorge (ou preenchimento com ponto cruz reto)
18. Ponto Bolonha em grelha
19. Ponto diamante
20. Ponto feixe amarrado
21. Ponto entremeio reversível (ou galão em ziguezague)
22. Ponto Gobelin entrelaçado
23. Ponto húngaro
24. Ponto húngaro em losango
25. Ponto alinhavo entrelaçado sobre três fileiras
26. Ponto concha (ou ponto leque)
27. Ponto nuvem
28. Calçada de ponto simples cruzado
29. Calçada de ponto simples cruzado – variante
30. Ponto segredo estendido
31. Ponto arroz (ou ponto semeadura)
32. Ponto arroz – variante
33. Ponto ampulheta
34. Ponto estrela cruzado
35. Ponto estrela cruzado duplo
36. Ponto chuleado cruzado (ou ponto Gobelin cruzado)
37. Ponto onda (ou ponto favo de mel)
38. Ponto onda – variante
39. Preenchimento com ponto interligado
40. Ponto trançado duplo ou ponto escada trançado
41. Ponto octogonal
42. Ponto octogonal duplo
43. Ponto português
44. Preenchimento com ponto inclinado
45. Preenchimento com ponto onda aberto
46. Preenchimento com ponto janela quadrada
47. Ponto alinhavo triplo chuleado
Os trabalhos
Meu primeiro rolo
O bordado em preto
Pequenos caprichos
Pontos bordados em motivos florais
Ponto cruz – mostruário de pontos
Pequeno mostruário com pontos de cerzido
Um rolo de trabalhos encantador
O rolo com abecedário
O rolo com ramo de flores
Noções básicas de bordado
A preparação do tecido
Colocação do desenho
O uso do bastidor
O método tradicional de transferência
Correspondência de fios
INTRODUÇÃO
No passado e até a década de 1960, as meninas aprendiam os trabalhos de agulha nas escolas: costura, bordado, crochê, tricô, tapeçaria... Todas essas meninas precisavam se inclinar sobre um tecido para adorná-lo com pontos variados, sem se importar se sua classe social era mais modesta ou se haviam nascido no seio de uma família abastada. Alguns desses trabalhos de escola, às vezes verdadeiras obras de arte, têm sobrevivido ao longo do tempo e mostram a habilidade de nossos antepassados com as mãos. Em muitas ocasiões, eram as freiras que ensinaram essa arte às jovens garotas que imortalizaram o fruto de seu aprendizado em vários tecidos. Entre muitas dessas obras, algumas são chamadas de “rolos de colegial” ou “memórias da minha juventude”. Estas são resultado da realização de várias peças de tecidos bordadas e unidas por outros pontos de bordado, uma renda ou um ponto de crochê, de acordo com o desejo da bordadeira. Cada peça foi criada e bordada em um momento da vida da menina que, enquanto crescia, ia aprendendo técnicas mais complexas, que aplicava em outras peças de tecido, que foram, por sua vez, unidas às anteriores. O conjunto construía, ao longo do tempo, um trabalho muito extenso que continuava a prolongar-se pelos meses e anos e cuja largura estreita, de 25 cm a 40 cm em geral, permitia que fosse enrolado para armazená-lo e transportá-lo. Daí o nome “rolo de colegial”. Alguns medem 2 metros de comprimento, outros podem atingir 7 metros e às vezes até mais de 10 metros. O trabalho é geralmente datado, o que permite localizar a época de sua realização. Eu tive a oportunidade de tocar em alguns rolos muito antigos (final do século XVIII). Data, nome e endereço do internato, ou escola a que a bordadeira pertenceu, são bordados na maioria das vezes em ponto cruz, mas poderiam aparecer com 1 ponto diferente (ponto haste, ponto realce, ponto corrente...). Alguns trabalhos apresentam uma grande variedade de técnicas, combinando pontos de bordado e exercícios de costura, como casas de botão, fixação de botões, pregas, franzidos… Podemos facilmente distinguir as obras das meninas da nobreza e da burguesia “lendo” os rolos. De fato, os rolos das meninas da nobreza continham muitos pontos atrativos e de embelezamento e muito pouco exercício de costura, se houvesse. Ao contrário, as alunas de condições mais modestas tiveram de praticar técnicas mais úteis que mais tarde ajudariam a consertar suas roupas de cama. Os rolos quase sempre incluem um alfabeto, bordado em ponto marca ou realce, ou mesmo em ambos. Esses alfabetos poderiam servir de exemplo para marcar a roupa de casa da pequena bordadeira. Todos os rolos de colegial que eu vi vieram da Bélgica, Holanda e alguns do norte da França. Parece, portanto, habitual nessa parte da Europa ensinar bordado com esse método particular. Os rolos são finalizados de várias maneiras: alguns são dobrados e forrados com um tecido colorido (vermelho, azul, rosa...) em algodão ou seda. Outros são finalizados com rendas... Quase todos são forrados com tecidos do lado avesso.
As alunas, futuras donas de casa, bordaram, exceto os rolos, seus exercícios de pontos em tecidos de dimensões mais modestas. Seja qual for o trabalho de bordado que nossos ancestrais tenham feito, é sempre abençoado que esses têxteis herdados do passado possam servir como testemunhas e provas de um saber fazer que devemos manter para transmitir às futuras gerações. Os sentimentos que vêm a mim quando tenho a chance de segurar tais trabalhos em minhas mãos são inundados de emoção porque, por trás de cada pedaço de tecido embelezado com pontos e fios em várias cores, há uma menina que se dedicou e fez o seu melhor. Cada tecido bordado contém uma alma, contém uma história que eu nunca conhecerei, mas que me permite viajar mentalmente no tempo, imaginar todas essas meninas sábias e obedientes, bordando e sonhando...
Marie Suarez
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