A maioria de nós vive hoje em cidades. Mas o que faz uma cidade ser uma cidade? É um lugar? Uma ideia? E como deveríamos definir a cidade que evolui hoje? Deyan Sudjic, diretor do Design Museum de Londres, decodifica as forças fundamentais que configuram os espaços urbanos ao nosso redor, de seus prédios a seus nomes; do poder das multidões ao motivo de ser paulistano, nova-iorquino ou moscovita pode nos trazer uma sensação de identidade e pertencimento maior do que qualquer outra.
“Um livro profundamente original e necessário.”
Alain de Botton
“Um guia indispensável sobre aquilo que faz uma cidade ser uma verdadeira cidade.”
Evening Standard
“Um pequeno e agradável guia sobre o que são as cidades e como elas funcionam.”
Financial Times
Sumário
O que é uma cidade
Como fazer uma cidade
Como mudar uma cidade
O governo de uma cidade
A ideia de uma cidade
As multidões e seu mal-estar
Agradecimentos
Bibliografia
Créditos das fotografias
Índice
O que é uma cidade
“Cidade” é uma palavra empregada para descrever praticamente qualquer coisa. Um povoado minúsculo do Meio Oeste norte-americano, com pouco mais de 10 mil habitantes e que tem como autoridade municipal apenas um xerife é chamado de cidade. Mas Tóquio também é uma cidade, apesar ter uma população de quase 40 milhões de pessoas, uma estrutura urbana baseada em inúmeros distritos eleitorais, um parlamento, um governador e uma administração pública que emprega 250 mil servidores para gerir um orçamento de vários bilhões de dólares.
Se qualquer lugar pode ser chamado de cidade, então essa definição corre o risco de não significar nada. Uma cidade é formada por suas pessoas, dentro dos limites das possibilidades que pode oferecer-lhes: tem uma identidade singular, que faz dela mais do que uma mera aglomeração de prédios. O clima, a topografia e a arquitetura são partes daquilo que cria essa singularidade, bem como suas origens históricas. As cidades baseadas no comércio têm características distintas daquelas que surgiram com o florescimento da indústria. Algumas urbes são construídas por autocratas; outras foram configuradas por uma religião. Também há aquelas criadas por questões de estratégia militar ou administração pública.
Contudo, esses não são elementos genéricos que sempre produzem os mesmos resultados. Muitas cidades têm seu rio; mas o Sena é único e é parte essencial daquilo que distingue Paris de Berlim, que conta com o Spree. Hong Kong é uma cidade comercial, assim como Dubai e Hamburgo, embora as três sejam inconfundíveis. E nem todas as características distintivas de uma cidade são positivas. A ruína gigantesca de um teatro em estilo beaux arts, que hoje faz as vezes de um edifício-garagem, é um elemento muito distintivo de uma única cidade, Detroit.
Em termos materiais, uma cidade pode ser definida pelo grau de coesão dos locais de trabalho e moradia, ou por seu sistema administrativo, sua infraestrutura de transporte e o funcionamento de sua rede de esgoto. Isso tudo sem falar em seu nível econômico. Uma definição possível de cidade é uma máquina criadora de riqueza que pode, no mínimo, fazer com que os pobres não continuem sendo tão pobres. Uma verdadeira cidade oferece a seus cidadãos a liberdade de se tornarem aquilo que desejam. A ideia de o que, afinal, seria uma cidade é um tanto elusiva, embora seja tão relevante quanto os seus dados brutos. Bem próxima à cicatriz deixada pela destruição das Torres Gêmeas no tecido urbano de Nova York, as palavras de dois poetas norte-americanos estão gravadas em letras de bronze maiúsculas em uma série de grades junto ao rio Hudson. São imprecisas e não conseguem oferecer prescrições ao urbanismo. Ainda assim, tem ressonâncias ausentes em outras definições mais materialistas de uma cidade.
O tom de Walt Whitman é de extremo elogio:
Cidade do mar! [...]
Cidade de docas e armazéns!
Cidade das altíssimas fachadas de mármore e de ferro!
Altiva e apaixonada! Cidade ardente, louca e extravagante!
Faltam os dois primeiros versos de Whitman. Esses refletem uma medida de urbanidade ainda mais relevante:
Cidade do mundo! (pois todas as raças aqui estão;
Aqui todos os países da terra colaboram)
E então, um pouco mais adiante naquela orla marítima, com a poluição visual dos novos edifícios altos visível do outro lado das margens de Nova Jersey, Frank O’Hara é mais lacônico:
Nunca precisamos ir além dos confins de Nova York para ter todo o verde que desejamos — sequer consigo apreciar uma folha de grama a menos que saiba que há por perto uma estação do metrô, uma loja de discos ou qualquer outro sinal que indique que as pessoas não lamentam a vida por inteiro.
(...)
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