Há pessoas que saem de casa com um celular na mão e não param de fotografar tudo aquilo que veem pelo caminho. Mas também há quem saia de casa levando apenas um sketchbook. A diferença é que, quando desenhamos alguma coisa, mais do que fazer um registro, estamos também repensando e até mesmo inventando a realidade. Com um sketchbook em mãos, deixamos de capturar imagens fugazes e passamos a olhar o mundo em busca dos traços essenciais que representem nosso próprio olhar.
Além de deixar claro o poder do desenho como linguagem de representação e ideação, este guia prático nos revela de que forma o sketchbook pode ser encarado como o dispositivo perfeito para começarmos a desenhar. Em 69 capítulos breves, Felix Scheinberger apresenta inúmeros segredos, técnicas, truques e dicas que nos permite redescobrir o desenho como uma linguagem universal.
Este livro inclui desde questões mais elementares, como que tipo de sketchbook ou caneta devemos comprar, até sugestões de como tirar vantagem do seu traço pessoal ou reconhecer o valor fundamental do acaso e dos erros.
Enquadramento, perspectiva, sombra, luz, corpo humano, amigos, carros, ideias... tudo, absolutamente tudo, esconde um segredo ou algum truque decisivo. Mas o artista alemão consegue explicá-los de forma simples e direta.
Em outras palavras: um verdadeiro tesouro para você começar, finalmente, a falar a linguagem do desenho.
Sumário
Prefácio
Para que serve um sketchbook?
O sketchbook
Que tipo de sketchbook?
O formato adequado
Um caderno com personalidade
Para começar... a página 17 é a melhor!
Proteja seu sketchbook
Observações são permitidas
Seu diário
A loucura proporciona liberdade
Desenhar bem e desenhar mal
Ferramentas
Marcadores, canetas recarregáveis, canetas de ponta fina
Tinta sépia
Lápis de cor
Canetas esferográficas
... e, é claro, lápis
As outras ferramentas: dos marcadores às canetas com brilho
Aquarelas
Colagens
Ideias e expressão
Insubstituíveis: ideias e expressão
Desenho cego
O traço como espelho
Seu sketchbook não é um kit de apresentação: erros são sempre bem-vindos!
Desenhe o que você sente
Desenhos não são fotografias
Bastam poucos traços, a imaginação completará o resto
Desenhe o que não é visível
Conhecimentos básicos
Planos
Os cinco tipos de plano
Análise detalhada do enquadramento
Peso e equilíbrio
Um pouco de tudo
Perspectiva
O espaço e a perspectiva
Paisagens
Natureza
A paisagem e o tempo
Colorindo paisagens
Colorindo paisagens com tinta
Luz e sombra
Sombra e luz
Pessoas
O ser humano não é um objeto
Amigos
Transeuntes
Em espaços públicos
Brincando de esconde-esconde
Iconoclastia
Retratos e caricaturas
O nu e as proporções
Animais
Eles não param de se mexer!
Arquitetura
Lugares novos e velhos
Sobre castelos e pontos de ônibus
Desenhando edifícios
O lugar certo
Chegue perto...
Lugares bons e lugares ruins
A escolha do local de trabalho
Inclua os carros em seus desenhos
Os carros envelhecem os desenhos
Acréscimos
Coisas
Por aí
Outros países, outros pontos de vista
Desenhos de viagens
Quem desenha ao viajar não é turista
O desenho é uma linguagem universal
Sobre o lugar certo e a hora certa
Museus: mas não só nos dias de chuva
Vistas panorâmicas
Detalhes e receitas
Uso e reuso
A realidade não é a realidade
Tudo passa
Como trabalhar seu desenho digitalmente e transportá-lo para fora do sketchbook
Mídias digitais e como tirar proveito de seus desenhos
Onde estão os sketchbooks de Leonardo da Vinci?
Biografia
Texto da introdução
Para que serve um sketchbook?
Após a introdução dos meios de comunicação digital em todas as áreas do trabalho criativo e artístico, o mundo dos designers, desenhistas e ilustradores se viu reduzido a um espaço muito pequeno: seu desktop. Como consequência, boa parte do contato que tínhamos com o mundo exterior acabou sendo perdida. Hoje em dia, quando nos sentamos diante do computador e precisamos desenhar alguma coisa que não esteja na frente dos nossos olhos, optamos quase sempre por buscar referências de imagens no Google.
O livro que você tem em mãos propõe uma estratégia diferente. Trata-se, em primeiro lugar, de um manual que explica como fazer esboços e desenhos. Nele são apresentadas dicas e conceitos básicos de ilustração. No entanto, mais importante do que essas orientações é a abordagem dada ao prazer que o ato de desenhar pode nos proporcionar. Este livro pretende mostrar que o desenho é uma forma de acessar espaços novos e mais amplos: espaços que podem ser tanto externos como internos. Em outras palavras, o desenho abre as portas para a imaginação e o conhecimento e é um dos poucos âmbitos artísticos em que temos a possibilidade de apreciar nossos motivos in loco, em primeira mão. Quando desenhamos, estamos repensando a realidade. Afinal, em vez de processar imagens feitas por outras pessoas, vamos nós mesmos para a rua e vermos o mundo com nossos próprios olhos. Nesse sentido, o sketchbook se torna uma extensão do nosso olhar e nos permite expandir nosso próprio mundo.
Além disso, o desenho conta com um caráter individual e autêntico. Quando recorremos às imagens de referência sugeridas pelo Google, assumimos o risco de usar as mesmas imagens que outras pessoas – e limitamos ainda mais nossa visão de mundo, ajustando-a ao funil hierárquico proposto pelas ferramentas de busca.
Atualmente, estamos assistindo ao renascimento do desenho. Existe uma grande demanda de realidade. Entretanto, as imensas possibilidades oferecidas pelo processamento digital de imagens contribuíram para o desgaste da credibilidade das imagens de maneira geral. É por essa razão que o desenho está passando por um novo auge – afinal, trata-se de um meio autêntico. O artista é responsável por seu desenho. O fato de ele ter feito o desenho com suas próprias mãos e de ter vivenciado aquela experiência garante a autenticidade de seu trabalho. Ou seja, a subjetividade e a intimidade de um desenho o tornam mais autêntico do que uma fotografia ou uma imagem encontrada no Google. Por conseguinte, o desenho também passa a ter mais importância como documento. E, dessa forma, chegamos ao sketchbook.
O sketchbook é algo bastante pessoal. Nele, faço desenhos para mim mesmo, e não para os outros. É nele que represento meu mundo e minha vida. O mundo onde vivo me desperta um grande interesse. Mas isso acontece em um processo longo e deliberado, e não apenas durante os poucos segundos que tenho para tirar uma foto. Além disso, eu me relaciono com o mundo – e essa relação também é estabelecida por meio de sentidos. O desenho que fazemos de uma pessoa será diferente quando houver um cheiro associado a ela, assim como o desenho que fazemos de um prato de comida terá outro resultado se não gostarmos daquela receita. Da mesma forma, o desenho do nosso próprio cachorro será diferente do desenho do animal de estimação de uma outra pessoa.
Para capturar todas essas impressões, nada melhor do que um sketchbook: um espaço pessoal, humano. É justamente aí que residem suas vantagens, tanto para você mesmo, como para a arte. Para que possamos ter experiências próprias, é importante que saiamos de casa. E, quando saímos de casa, ter um sketchbook em mãos é imprescindível.
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Copyright da presente ediçao: Editorial Gustavo Gili SL